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22
Ago/16

O tempo: Meu professor!

Um artigo do Pr. Adejarlan Ramos

Hoje dia 22 de Agosto completo 42 anos! Parece que o meu calendário tem se acelerado nos últimos anos! Surpreso, vejo a ampulheta sangrar areia e o relógio se fracionar em milésimos de segundos! Sinto-me ínfimo diante do tempo!

Porém, estou cada vez mais consciente de que o tempo é um grande professor. Ele já ensinou-me cada coisa!

O tempo ensinou-me a desvencilhar-me de messianismos. Convivo com minhas inadequações. Já percebi que não sou semi-deus nem Messias. Minha vocação é para ser humano.

O tempo ensinou-me que não sou onipotente. Nem sempre consigo reger a vida como gostaria. Qual mar revolto, a vida as vezes bate com ímpeto sobre o nosso frágil barquinho. No inicio, pensei que era o regente da vida, depois percebi que sou apenas componente do coral.

O tempo ensinou-me que tenho limites.   Sempre que quis transpô-los sofri as consequências. Desisti! Resolvi andar no ritmo da vida e ouvir as batidas do coração!

O tempo ensinou-me que eu não sou imune a ele. No inicio pensei que sempre podia correr à frente dele. Até tentei, mas quando me dei conta ele estava me alcançando. Ele é muito veloz! As vezes não consigo sincronizar com ele na maratona da vida.

O tempo ensinou-me   sempre lembrar que sou humano. Pensei no inicio que eu fosse divino. Me enganei! Eu não consegui gerar as coisas somente com o “Haja” como Deus fez no Genesis. Repeti “Haja” muitas vezes e nada acontecia. Tive que suar para chegar onde cheguei.

O tempo ensinou-me que tudo é vaidade. Tentei acrescentar vários adjetivos ao meu nome. Tudo em vão. Percebi que os adjetivos vão se incorporando ao nosso nome de forma natural e como consequência de nossas escolhas. A cada instante estou sendo adjetivado e rotulado. A adjetivação é inevitável!

O tempo ensinou-me que não sou perfeito.  Até que tentei. Tentei enquadrar-me no politicamente correto para escapar dos juízes de plantão. Não consegui! O tempo foi passando e percebi que os quadros que eu ia pintando não eram irretorquíveis.

O tempo ensinou-me que o cenário da vida muda constantemente.  Muitos amigos da infância não sei por onde andam. Por força das circunstâncias, tive que reconfigurar amizades. Muitos que estavam em cima na escada da vida, hoje estão em baixo.



O tempo ensinou-me que as pessoas podem mudar em frações de segundo. Os “Hosanas” podem se transformar em “Crucifica-o” numa velocidade incrível. É só mudar os interesses e as conveniências.

O tempo ensinou-me que sou inédito. Tenho minhas próprias maneiras de absolver e expressar alegrias e amarguras. São estas peculiaridades que eu chamo de “eu”.   

O tempo ensinou-me que muitas vezes sou construído e reconstruído com as opiniões dos outros. Me rotulam. Me definem.  Mas no final, poucos sabem traçar minha versão final.

O tempo ensinou me a redefinir minha espiritualidade. Até que tentei enquadrar minha espiritualidade nos moldes da religiosidade. Também desisti. Preferi ficar com a espiritualidade bíblica que ensina a fechar a porta do quarto e orar em secreto. Optei por uma espiritualidade que segreda com o Pai celeste sem espetacularizá-la.

O tempo ensinou-me a colecionar erros e acertos. Sou a soma deles. É isso que eu chamo de experiência!

O tempo ensinou-me a valorizar cabelos brancos. Cabelo branco também é biografia!  

O tempo ensinou-me que arriscar é preciso. Quem não arrisca, patina em mesmice e viver de mesmice é uma tirania cruel.

O tempo ensinou-me que para viver não precisa de muita coisa: apenas amigos que nos façam rir e que não nos abandona quando sofremos e companheiros que não tem medo de nos falar a verdade.

O tempo ensinou-me a soletrar “o-bri-ga-do” com mais intensidade.

O tempo ensinou –me que, quietude pede introspecção. Resolvido, atendo. Aceito-me introspectivo. Me sinto mais fértil quando escolho as sombras aos holofotes, o ostracismo à festa. Quanto mais taciturno, mais gero poesia!

O tempo ensinou-me a desvencilhar de alguns conceitos antigos que eu tinha. Assim, procuro me abrir ao novo sem perder a essência e a ortodoxia.

O tempo ensinou-me a dar adeus à minha ingenuidade. Já não acredito em espiritualidade espalhafatosa, em promessas mirabolantes e irrealizáveis, em “ofertas generosas”, em discursos cuja tônica é só jogar confeito, em propagandas enganosas, em amizades interesseiras e em maquiagens eclesiásticas.

O tempo ensinou-me que não sou genial. As poucas coisas que sei, aprendi devagar e custou-me caro. Encantando, li e reli alguns clássicos da literatura. Não consegui chegar nem aos artelhos de Machado de Assis, Eça de Queiroz e Claudionor de Andrade. Suei para aprender um pouquinho de grego e hebraico. Lia e relia para aprender! Pobre de mim! Não nasci com vocação para ser gênio, nasci com vocação para ser humano!

O tempo ensinou-me que sou inadequado para expressar amor! As vezes cedo às conspirações do amor como: cotidiano, rotina e mesmice. Descobri que a alegria precisa de companhia. Sem você Rute, talvez eu ficaria escondido em uma caverna escura e me trancaria em meu egoísmo inconsequente. Te amo! Você sempre me ajuda a ser mais solidário. Quem sabe algum dia eu ainda possa melhorar. Só não quero ser um avô rabugento!

O tempo ensinou-me que sou maior! Sim sou maior do que meus medos, minhas inadequações, minhas saudades, minhas decepções, minhas angustias, meus sonhos.



O tempo ensinou-me a reciclar lixo do coração! So assim sobrevivo as amarguras, ressentimentos e ingratidões.

O tempo ensinou-me que a relação com o poder não é nada fácil. As maiores ameaças à humanidade nascem da sedução do poder.

O tempo ensinou-me que espiritualidade também vem de silencio e vida contemplativa. O suave balançar de uma folha pode nos induzir a uma oração! No silencio também podemos ouvir a voz do Criador!

O tempo ensinou-me que saudade incomoda e nostalgia aumenta. Saudade faz a gente não acostumar a ser adulto.

O tempo ensinou-me que não preciso ter medo do fracasso. É ele que me conduz à vitorias. Quando não ganho, aprendo!

O tempo ensinou-me a lutar para preservar a esperança. Há muitas coisas que desalentam o meu coração: maquiagem eclesiástica, discurso politico afinado com interesses, narcisismo travestido de humildade, bastidores eclesiásticos, ingenuidade sendo alvo de raposas, etc. Nos últimos anos tenho aprendido a colher flores em lamaçal e alimentar esperança.

O tempo ensinou-me a suportar a tortura de ausências. Aprendi a conviver com elas.

O tempo ensinou-me que passar pelo caminho menos trilhado tem seu alto preço. Nos últimos anos tenho sido atraído pelo caminho menos trilhado. No caminho menos trilhado não se acende luzes, não se ouve Hosanas, as passarelas não são largas. Mas pelos menos estou tranquilo com a minha consciência. Para chegar onde cheguei, não atropelei ninguém, não entrei pela janela. Cheguei com ajuda de Deus, de minha família, de meus amigos e irmão e sempre norteado pela consciência cristã.

O tempo ensinou-me que só viverei uma vez. Então o tempo é agora, o dia é hoje. Antes que chegue o fim quero fecundar a vida com ternura. Os anos que me restam podem ser poucos mas não serão banais. A pior tristeza é não saber conjugar o verbo esperançar. Quero ir até o fim, só te peço Jesus, que me dês a graça de continuar sensível a tudo o que é humano.

Tempo, tempo...! Mesmo sendo um aluno rude, tenho muito o que aprender com você! Vamos...   

Pr. Adejarlan Ramos

Fonte:Blog do Sigi Vilares/Colunistas
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