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Mai/25 |
Embate entre entidades comerciais de Barreiras escancara disputa por influência política e institucional |
As redes sociais se tornaram, nesta sexta-feira (16), palco de um embate explícito entre três importantes entidades ligadas ao setor comercial de Barreiras: CDL/ACEB, SICOMÉRCIO e SINDCOB. O que aparentava ser apenas uma discordância sobre a cobrança da contribuição assistencial prevista na Convenção Coletiva de Trabalho 2024/2026 revelou, na verdade, um pano de fundo mais profundo: a disputa por representatividade política, protagonismo institucional e influência sobre as decisões estratégicas que moldam o comércio local.
Jorlando Neves, representando a CDL/ACEB, critica a condução das negociações da nova Convenção Coletiva e cobra maior participação da entidade. “Essas deliberações foram realizadas sem o conhecimento, participação ou concordância das nossas entidades”, afirmou, apontando um possível afastamento político da CDL nas decisões que impactam o comércio local
A nota publicada pela CDL/ACEB, sob assinatura de Jorlando Neves, manifestou desconforto com o rumo das negociações conduzidas entre sindicatos patronais e laborais. Segundo a entidade, as decisões sobre cláusulas da convenção foram tomadas sem sua participação — o que, para uma instituição com 48 anos de história no comércio local, representa uma ruptura com a prática do diálogo.
“Essas deliberações foram realizadas sem o conhecimento, participação ou concordância das nossas entidades”, diz a nota da CDL/ACEB, que também orienta empresários sobre os prazos legais para oposição à cobrança assistencial, reforçando seu papel de representação da classe empresarial.
No entanto, mais do que um impasse técnico sobre tributos sindicais, a fala da CDL/ACEB expõe um possível legítimo sentimento de afastamento político do centro das decisões. O posicionamento questiona o espaço ocupado pelas outras entidades e tensiona a relação institucional, colocando em xeque os critérios de legitimidade para representar os interesses do setor produtivo.
Gleison Dourado, presidente do SICOMÉRCIO, contesta publicamente as alegações da CDL e reforça que houve diálogo durante as negociações da Convenção Coletiva. “Não podemos aceitar que informações inverídicas sejam difundidas”, afirmou, destacando os limites jurídicos da atuação da entidade no processo
O SICOMÉRCIO, por meio do seu presidente Gleison Dourado, reagiu com veemência. A entidade patronal afirmou que, embora a CDL não tenha legitimidade legal para assinar convenções coletivas, foi sim comunicada durante o processo. Segundo Dourado, houve envio de e-mails e até retorno formal da CDL, com sugestões datadas de 9 de abril.
“Não podemos aceitar que informações inverídicas sejam difundidas, gerando desinformação e ruído entre instituições que deveriam atuar de forma colaborativa”, disse Dourado, em tom direto, ressaltando que a CDL não foi excluída, mas que sua atuação é limitada juridicamente no âmbito das negociações coletivas.
“ACEB e CDL não têm legitimidade para falar pelo trabalhador”, afirmou Edson rodrigues dos Santos, apontando possível prática antissindical
Ao tomar parte no conflito, o SINDCOB, que representa os trabalhadores, elevou o tom e acusou a CDL de disseminar desinformação. Para o presidente Edson Rodrigues dos Santos, a entidade patronal estaria ultrapassando os limites de sua atuação ao tentar influenciar diretamente os trabalhadores contra uma decisão aprovada em assembleia pela categoria.
“ACEB e CDL não têm legitimidade para falar por você. Elas não representam os trabalhadores e não participam das negociações coletivas”, afirmou Edson, que ainda alertou sobre possíveis práticas antissindicais.
Nos bastidores do setor comercial de Barreiras, a crise é lida por muitos como um embate por espaço institucional e influência política. De um lado, a CDL/ACEB, historicamente enraizada entre os lojistas, tenta reafirmar sua voz em processos decisórios estratégicos. Do outro, o SICOMÉRCIO, entidade patronal legalmente habilitada, reforça sua centralidade jurídica. E entre eles, o SINDCOB busca fortalecer sua base e blindar os trabalhadores do que chama de “pressões indevidas”.
Esse triângulo de tensões escancara a ausência de um fórum estável de diálogo entre entidades que, em tese, deveriam atuar de forma articulada. A disputa pública nas redes sociais não só fragiliza a imagem institucional de todos os envolvidos, como também gera insegurança para empresários, trabalhadores e para o ambiente de negócios em geral.
Além disso, a luta pela legitimidade política reflete o desejo de cada entidade de ser reconhecida não apenas por sua base, mas por setores do poder público e da sociedade civil como voz autorizada nas pautas que envolvem a economia regional.
Num cenário de conflito acirrado, as boas práticas em relações institucionais lembram que o espaço de negociação coletiva não é um campo para imposições ou hegemonias, mas um exercício constante de construção do possível. Negociar, por definição, é ceder. E ceder exige reconhecer o outro – não como inimigo, mas como parte legítima do processo.
A crise atual poderia ser um ponto de partida para um novo pacto institucional entre as entidades comerciais de Barreiras. Mas isso só será viável se os representantes trocarem a lógica do embate público pela busca de convergências.
A cidade, seus empresários e trabalhadores não podem ser reféns de disputas por vaidade ou poder. O que se espera das lideranças é maturidade. E maturidade, nesse caso, passa por reconhecer que o verdadeiro protagonismo político se mede não pelo volume das declarações, mas pela capacidade de construir consensos sustentáveis.
Porque, apesar das divergências e disputas por protagonismo, há um ponto em comum que deveria unir todas as partes: o compromisso com o desenvolvimento econômico e social de Barreiras. Esse é o objetivo maior – e nele, não pode haver divisão.