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Set/25 |
Café Jacu, que custa R$ 1,6 mil o quilo, atrai consumidor brasileiro |
Produtor Henrique Sloper na lavoura de café da variedade arara da Camocim, em Domingos Martins (ES)
Em tempos de menor oferta — e agora também de tarifaço americano —, o consumidor está pagando pelo menos o dobro pelo quilo de café convencional neste ano. A alta do preço provavelmente afetou o consumo do produto em parte dos lares brasileiros. Mas um café especial, de baixo teor de cafeína produzido no Espírito Santo — a partir dos grãos extraídos das fezes de um pássaro — não viu redução nas vendas. Ao contrário.
O Café Jacu, o mais caro do Brasil, custa R$ 1.600 o quilo, e suas vendas cresceram 15% a 20% neste ano no país em relação a 2024, segundo o cafeicultor, Henrique Sloper, da fazenda Camocim, em Domingos Martins (ES). Ele não revela o volume, mas afirma que o Brasil se tornou o quarto maior mercado para o Café Jacu, que tem no topo do ranking o Japão, seguido por Inglaterra e França.
Em Londres, um quilo do café é vendido na luxuosa Harrods pelo equivalente a R$ 9.000. No Brasil, o produto é comercializado em embalagens de 100 gramas, 250 gramas e 1 quilo. Sloper afirma que as vendas do Jacu cresceram porque o brasileiro está aprendendo a conhecer café e muitas cafeterias surgiram pelo país.
Ex-presidente da BSCA (Brazil Specialty Coffee Association), o produtor diz que o Jacu representa menos de 2% da sua produção anual de cafés orgânicos e biodinâmicos, estimada em 270 toneladas. Atualmente, 83% da produção de café da fazenda é exportada.
O alto preço do Jacu, argumenta, deve-se ao trabalho inteiramente manual e demorado, que vai desde o recolhimento das fezes do pássaro (o jacu) na lavoura até a limpeza e processamento. Sloper, que mantém uma cafeteria em sua fazenda com vista para as Montanhas Capixabas, diz que nunca fez as contas do custo de produção do Café Jacu.
“Não faço contas e não coloco esse café em competição. É café exótico, como existem muitos outros no mundo. Se fizesse as contas, provavelmente não produziria mais. Mantenho no portfólio porque ele me permite mostrar o que acontece numa propriedade quando se adota a agricultura regenerativa, que, acredito, é o futuro do café.”
Ave nativa da Mata Atlântica que esteve sob risco de extinção, o jacu é um sinal de saúde ambiental da região. O pássaro é “parceiro” da Camocim desde 2018, quando o produtor flagrou mais de 30 jacus comendo café. Sloper, que já conhecia o processo de produção do café mais caro do mundo, o Kopi Luwak, da Indonésia, teve a ideia de tentar desenvolver uma bebida semelhante com os resíduos do jacu.
“Para nós, o jacu tem três funcionalidades: serve como alarme de colheita porque onde ele está comendo o café já está maduro; é selecionador de café porque só come cafés maduros, de peneira grande e sem defeitos; e é plantador de árvores frutíferas porque come todas as frutas e espalha as sementes na agrofloresta”, afirma o cafeicultor.
Para quem tem receio de experimentar o Jacu, Sloper explica que depois de comer os grãos de café, o pássaro fica apenas com a mucilagem (uma camada viscosa entre a polpa e o pergaminho) e expele, cerca de 40 minutos depois, o pergaminho, a camada protetora que envolve o grão, que é separado e torrado. Após o processamento, o café fica congelado por um mês.