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06
Jul/25

Operação Overclean: Entenda como esquerda e direita desviaram valores bilionários dos cofres públicos na Bahia


Operação Overclean investiga um esquema de corrupção que desviou mais de R$ 1,4 bilhão em emendas parlamentares na Bahia e outros estados

Dinheiro jogado pela janela, contratos superfaturados, envolvimento de prefeitos baianos, porte ilegal de armas e o desvio de mais de R$ 1,4 bilhão proveniente de emendas parlamentares. "Parece até clichê de filme americano", como diria o capitão Nascimento — interpretado pelo ator baiano Wagner Moura, em Tropa de Elite 2 —, mas é a realidade investigada pela Operação Overclean, deflagrada pela Polícia Federal (PF) em colaboração com a Controladoria-Geral da União (CGU).

A investigação tem como alvo uma organização criminosa que capitaneava fraudes licitatórias, desvio de recursos públicos, corrupção e lavagem de dinheiro no estado da Bahia, respingando também em São Paulo, Minas Gerais e Distrito Federal, dentre outros.

Com políticos, empresários e servidores baianos no centro de toda a ação, a BNews Premium deste domingo (6) traça uma linha do tempo da Operação Overclean iniciada ainda em 2024, que conta com o apoio, além da CGU, do Ministério Público Federal (MPF) e da Receita Federal, possuindo desdobramentos até hoje. 


Fase mais recente da Operação Overclean teve até prefeito preso por porte de arma ilegal
(Foto: Devid Santana/BNews)

Marco zero

Primeira fase: 42 mandados de busca e apreensão; 17 mandados de prisão preventiva (16 executados, um não localizado) 

Durante a primeira fase, deflagrada no dia 10 de dezembro de 2024, a PF havia descoberto que cerca de R$ 1,4 bilhão em recursos públicos federais foram desviados desde 2017 através de contratos firmados com o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), utilizando empresas de fachada e laranjas para movimentar as cifras.

Rapidamente a PF rastreou o dinheiro até o empresário Marcos Moura, conhecido como "Rei do Lixo" — nome forte com bastante influência dentro do União Brasil —, que foi preso. Apontados como líderes do esquema criminoso, Marcos Moura e Lucas Maciel Lobão, ex-coordenador do Dnocs na Bahia, foram acusados de financiar e coordenar uma rede ilícita envolvendo corrupção e fraudes em licitações.


Apelidado como "Rei do Lixo", Marcos Moura foi um dos principais alvos do início da operação
(Foto: Reprodução)

Nesta fase, os crimes investigados foram corrupção, fraude em licitação, peculato e lavagem de dinheiro. Mas o início da queda do "castelo de cartas" não parou por aí. Ainda na primeira fase, um "coadjuvante" descidiu roubar a cena. Estamos falando de Francisco Manoel do Nascimento Neto, conhecido como Francisquinho Nascimento (União Brasil) — primo do deputado federal Elmar Nascimento (União Brasil).

O vereador eleito de Campo Formoso, no Centro-norte baiano, Francisquinho entrou na mira da Overclean e, ao tentar fugir dos federais, jogou uma sacola com R$ 220 mil pela janela de um apartamento no dia em que foi preso.

Além disso, a PF descobriu indícios de ocultação de provas, uma vez que houve trocas de mensagens dele com outros envolvidos e documentos eletrônicos apagados. 


Dinheiro jogado pela janela pelo vereador foi encontrado pela PF (Foto: Divulgação)

Outra peça do tabuleiro identificada pela investigação foi Flávio Henrique de Lacerda Pimenta, ex-diretor da Secretaria Municipal de Educação (Smed) de Salvador, que foi preso por fornecer informações privilegiadas à organização criminosa. Durante a prisão, a PF teria apreendido R$ 700 mil em espécie na residência do servidor na capital baiana.

Segunda fase: Dez mandados de busca e apreensão; quatro mandados de prisão preventiva; uma ordem de afastamento cautelar (servidor da PF)

Na segunda fase, deflagrada em menos de duas semanas depois, no dia 23 de dezembro, surgiram novos "protagonistas". Fundamental para a articução do esquema, o vice-prefeito de Lauro de Freitas, Vidigal Galvão Cafezeiro Neto (Republicanos) — historicamente ligado ao PT — foi apontado como facilitador interno da trama, além de estar envolvido no recebimento de propina e lavagem de dinheiro.

Além dele, em consonância com o esquema, o Secretário de Mobilidade de Vitória da Conquista, e ex-chefe de gabinete, Lucas Dias, também foi alvo da segunda fase da Overclean. Ele recebia valores para facilitar a articulação de contratos com a organização, de acordo com a investigação.

Terceira fase: 16 mandados de busca e apreensão; uma ordem de afastamento cautelar (servidor público)

Durante a terceira fase da Operação Overclean, iniciada no dia 3 de abril de 2025, foram realizadas várias ações em Salvador, Belo Horizonte, São Paulo e Aracaju. Nessa etapa, o envolvimento da família Nascimento ficou ainda mais claro quando o irmão de Francisquinho, o prefeito de Campo Formoso, Elmo Aluizio Vieira Nascimento (União Brasil), se tornou suspeito de favorecer contratos dentro do esquema.

A investigação também atingiu o deputado federal Elmar Nascimento (União Brasil). Conforme decisão do ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou a terceira fase da Operação Overclean, o parlamentar passou a ser alvo da Polícia Federal devido à destinação de emendas parlamentares para um convênio firmado com a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf).

A decisão destaca que, segundo a PF, a análise de dados obtidos em celulares apreendidos revelou encontros entre o Elmo Nascimento, um superintendente da Codevasf — supostamente indicado por Elmar — e um representante da empresa que acabou vencendo a licitação sob suspeita no município.

A PF afirma ter identificado que os recursos utilizados na contratação tinham como origem emendas parlamentares indicadas por Elmar e, posteriormente, liberadas. Além disso, os investigadores apuraram que o superintendente da autarquia foi nomeado para o cargo por indicação direta do deputado. Ademais, foi justamente a citação ao nome de Elmar Nascimento que levou o caso a subir da primeira instância da Justiça Federal para o STF.


Ligação de Elmar Nascimento com investigados na Operação Overclean faz caso ir parar no STF
(Foto: Zeca Ribeiro/Agência Câmara)

E lá na capital mineira, um velho conhecido dos soteropolitanos virou alvo: o ex-secretário de Educação de Salvador, Bruno Barral — nomeado durante a gestão de ACM Neto. À época, Barral era secretário de Educação de Belo Horizonte. A Polícia Federal encontrou na casa dele, dinheiro vivo, joias e relógios em um cofre.

O total apreendido foi no valor de R$ 120,8 mil. Na lista da apreensão estão dinheiro vivo (11,5 mil dólares, 7 mil euros e R$ 7 mil), um relógio de luxo, uma corrente de ouro, um carro Corolla, pen drives e aparelhos telefônicos.


Laços com ACM Neto e Rei do Lixo fazem Bruno Barral ser alvo da Operação Overclean
(Foto: Reprodução)

A essa altura, além de Barral, a PF tornou os olhos ao Rei do Lixo novamente. Naquele mesmo dia, os federais realizaram buscas na casa do empresário Marcos Moura em Salvador, no edifício Adelaide, no bairro do Comércio.

Nova etapa

Com 16 mandados de busca e apreensão e três ordens de afastamento cautelar de servidores públicos, a quarta fase da Operação Overclean teve início no último dia 27 de junho — e dessa vez, a esquerda surgiu nos holofotes da operação. Os prefeitos de Ibipitanga, Humberto Raimundo Rodrigues de Oliveira (PT), e de Boquira, Alan Machado (PSB), foram afastados por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

Além disso, ainda houve a quebra de sigilo de assessores do deputado federal Félix Mendonça Júnior (PDT–BA) — presidente estadual da sigla que se aliou recentemente ao governo Jerônimo Rodrigues (PT) — e a descoberta de cartas marcadas em licitações e propinas entregues em espécie. Além deles, o ex-prefeito de Paratinga (PT), Marcel Carvalho, foi encontrado com mais de R$ 3 milhões em sua casa


Aliado recente de Jerônimo Rodrigues na Bahia, Félix Mendonça Júnior vira alvo da Overclean
(Foto: Domingos Jr/BNews)

Bahia no centro da investigação

No geral, entre dezembro de 2024 e junho de 2025 foram 130 mandados de busca e apreensão e 40 investigados com foro privilegiado. Com mais de sete estados como alvo, até o momento, na Bahia, já entraram na mira municípios como Salvador, Camaçari, Paratinga, Boquira, Ibipitanga, Jequié, Itapetinga, Santa Cruz da Vitória e Lauro de Freitas.

De acordo com a PF, para realizar as fraudes os envolvidos agiram de forma padronizada, por meio de superfaturamento de obras e serviços, emissão de notas fiscais falsas, pagamento de propina a agentes públicos e uso de laranjas e empresas de fachada para lavar o dinheiro. Boa parte dos contratos analisados envolvia recursos oriundos de emendas parlamentares federais, com intermediação de políticos e prefeitos do interior baiano.

Confira o nome de todos os presos e suas respectivas funções dentro da organização criminosa:  

  • Alex Rezende Parente - Empresário
  • Fábio Rezende Parente - Empresário
  • Lucas Maciel Lobão Vieira - Ex-Coordenador Estadual do Dnocs na Bahia
  • Clebson Cruz de Oliveira - Ex-sócio de Fábio Rezende Parente nas empresas Allpha Pavimentações e Serviços de Construções Ltda., Qualymulti Serviços Eireli e Olgarena Comercial Ltda., foi funcionário da Larclean Saúde Ambiental Ltda. E de filial da P.A.P. Saúde Ambiental (empresa que teve como sócio administrador e responsável Pedro Alexandre Parente Júnior, pai dos irmãos investigados). 
  • José Marcos de Moura - Empresário "Rei do Lixo"
  • Fábio Netto do Espírito Santo - Apontado pela PF como atuante no Município de Senador Canedo/GO.
  • Flávio Henrique de Lacerda Pimenta - Servidor na Secretaria Municipal de Educação
  • Orlando Santos Ribeiro - Atuava no Município de Itapetinga/BA.
  • Francisco Manoel do Nascimento Neto - Atuava no Município de Campo Formoso/BA.
  • Kaliane Lomanto Bastos - Coordenadora de Projetos, Execução e Controle na Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente da municipalidade, como integrante da organização que atua no município de Jequié/BA.
  • Claudinei Aparecido Quaresemin - Braço da organização criminosa no Tocantins.
  • Itallo Moreira de Almeida -  Braço da organização criminosa no Tocantins.
  • Evandro Baldino do Nascimento - Empresário de Goiás do ramo da construção, atua fornecendo sustento logístico e operacional à ORCRIM, ocupando uma posição estratégica, embora não ocupe posição de liderança, promove ações que fortalecem a estrutura da organização criminosa, contribuindo para a manutenção de suas atividades ilícitas.
  • Geraldo Guedes de Santana Filho - sócio da A G&M AGÊNCIA DE TURISMO E ORGANIZADORA, DE EVENTOS LTDA (FOCCUS PRODUCOES) e atua como uma espécie de funcionário de ALEX PARENTE, “executando funções de contabilidade, secretariado, além de tratativas diretas com agentes do setor público envolvidas nos contratos firmados com a LARCLEAN.
  • Diego Queiroz Rodrigues - Atuava no Município de Itapetinga/BA.
  • Ailton Figueiredo Souza Junior - Braço operacional do grupo criminoso em Lauro de Freitas/BA.
  • Iuri dos Santos Bezerra - Braço da organização criminosa que atuava no Dnocs, na Coordenadoria Estadual na Bahia (CEST-BA).


Operação Overclean se torna moeda política e sacode o tabuleiro político da Bahia
(Foto: BNews)

Em liberdade 

Apesar do desvio de R$ 1,4 bilhão e das evidentes violações legais, os investigados na Operação Overclean foram libertados poucos dias após suas prisões.

Nove dias após serem detidos, o ex-coordenador estadual do Dnocs, Lucas Lobão; o empresário Marcos Moura, o "Rei do Lixo"; o vereador eleito de Campo Formoso, Francisco Nascimento, e outras 13 pessoas foram soltas ainda na primeira fase da investigação.

Lista completa dos soltos na primeira fase da investigação:

  • Alex Rezende Parente: empresário
  • Fábio Rezende Parente: empresário
  • Flávio Henrique Pimenta: servidor público
  • Clebson Cruz de Oliveira
  • Fábio Netto do Espírito Santo
  • Orlando Santos Ribeiro
  • Kaliane Lomanto Bastos
  • Claudinei Aparecido Quaresemin
  • Evandro Baldino do Nascimento
  • Geraldo Guedes de Santana Filho
  • Diego Queiroz Rodrigues
  • Ailton Figueiredo Souza Junior
  • Iuri dos Santos Bezerra 
  • Vidigal Cafezeiro Neto

Sem perder tempo, no mês seguinte à soltura, em maio deste ano, o vereador Francisco Nascimento foi registrado aproveitando uma festa com amigos. Mas, diferente do comum, o item em destaque não foi o copo, e sim a tornozeleira usada pelo parlamentar. O acessório, junto aos óculos escuros e à roupa despojada, compôs as vestes do vereador.

Recentemente, na quarta fase da operação, também foram presos e rapidamente liberados, após pagar fiança, os prefeitos alvos Humberto Rodrigues (PT) e Alan França (PSB). Durante a prisão, eles foram flagrados com armas e autuados por porte ilegal durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão expedidos pelo STF. É na Suprema Corte que são autorizados os próximos passos e capítulos de uma operação que aparenta estar longe de ter fim. 

Fonte:BNEWS
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