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Jul/25 |
Quando proteger também adoece: Crescimento de suicídios de policiais baianos acende alerta na segurança pública |
Mais policiais da ativa tiraram a própria vida do que morreram em confrontos durante o serviço em 2024, na Bahia. Foram registrados cinco suicídios entre policiais militares no estado, contra dois agentes mortos em ação: um policial militar e um civil.
O cenário contrasta com a imagem tradicional de risco associado exclusivamente à atividade de combate ao crime e revela uma ferida silenciosa dentro das forças de segurança: a saúde mental dos profissionais.
Os dados integram o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta quinta-feira (24). O documento foi elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Em termos proporcionais, a taxa de suicídio entre policiais da ativa no estado se manteve em 0,1 por mil, mas o crescimento percentual foi de 66,7%. Já as mortes em confronto em serviço representaram menos da metade desse número.
Por trás dos números
Segundo o estudo, os dados sobre suicídios entre policiais têm revelado uma realidade dolorosa, mas que, por vezes, permanece invisível para a sociedade e para as próprias instituições. Por trás dos números existem fatores complexos e silenciosos que alimentam esse cenário. No documento, foram destacadas “seis condicionantes laborais”: assédio moral; a admissão do papel de “policial herói”; o desgaste físico e mental em razão do contato continuado com situações de perigo; a cobrança institucional pelo cumprimento de metas; o endividamento; e a insegurança jurídica.
No estudo, é observado que a profissão de policial carrega especificidades que a diferenciam de outras ocupações e que, podem agravar ainda mais a saúde mental desses profissionais. Além da exposição ao risco, a análise indica que os policiais vivem sob um conjunto rígido de normas e responsabilidades que nem sempre são visíveis para o público.
“Os policiais, principalmente os militares, não têm a opção de escolher viver em qualquer lugar, mesmo que o lugar seja aquele em que foi criado e passou toda sua vida. Podem não matricular seus filhos na escola mais próxima de sua casa ou frequentar determinados ambientes. Não porque não possam, mas por uma questão de segurança própria e dos seus. As situações de risco a que se submetem os policiais, sejam civis ou militares, os expõem como indivíduos antes mesmo de serem percebidos como profissionais cumpridores do dever”, diz trecho da análise feita por especialistas no anuário.
Essa rotina, de acordo com a análise, traz um desgaste contínuo que vai além do aspecto físico, atingindo o psicológico de maneira profunda. Essa vulnerabilidade constante afeta não só os policiais, mas também seus familiares, criando um ciclo difícil de romper.
Para que o problema seja enfrentado, os especialistas argumentam que a saúde mental dos policiais brasileiros precisa estar, também, na centralidade das políticas de segurança pública.
Cenário nacional
No Brasil como um todo, o total de suicídios entre policiais da ativa caiu de 137 para 126 entre 2023 e 2024, uma redução de 8%. Ainda assim, o número segue alto, evidenciando que a situação da Bahia não é isolada, mas parte de um problema estrutural.
Estados com altos índices de suicídios de policiais
Apesar da leve queda no número total de suicídios entre policiais da ativa no Brasil, de 137 em 2023 para 126 em 2024, alguns estados apresentaram aumentos expressivos e preocupantes. O Paraná lidera a lista com 12 casos (11 policiais militares e um civil), o dobro do registrado no ano anterior.
Logo atrás está o Rio Grande do Sul, com 16 casos em 2024, sendo 15 entre PMs e um entre civis, um aumento de 33,3% em relação ao ano anterior. No Ceará, os registros saltaram de 5 para 10, dobrando em apenas um ano e elevando a taxa local para 0,4 por mil policiais da ativa.
Outro destaque é o estado de São Paulo, que apesar de continuar entre os mais populosos e com maior efetivo policial do país, apresentou queda significativa: passou de 39 suicídios em 2023 para 17 em 2024, uma redução de mais de 50%.