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Jul/25 |
Brasil pode perder R$ 180 bilhões em investimentos se aceitar proposta da BYD; entenda |
Governo Federal pode perder até R$ 180 bilhões previstos em investimentos na indústria automotiva
O Governo Federal, caso aceite o pedido da montadora chinesa BYD para redução de impostos sobre a importação de kits de veículos semiprontos, pode perder até R$ 180 bilhões previstos em investimentos na indústria automotiva até 2030. O alerta veio do presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Igor Calvet, em entrevista ao Estadão.
A Câmara de Comércio Exterior (Camex) vai analisar a proposta na próxima quarta-feira (30), véspera do novo tarifaço dos Estados Unidos. O temor do setor é um possível desequilíbrio competitivo caso o Brasil flexibilize suas barreiras comerciais em pleno cenário de retração na produção e aumento das importações
Cenário arriscado - A montadora chinesa solicitou a redução do imposto de importação para kits SKD (semi desmontados) e CKD (completamente desmontados) usados na nova fábrica em Camaçari para montagem de veículos. Com isso, os percentuais seriam reduzidos para 10% em híbridos e 5% em elétricos, do que os atuais 20% e 18%.
Caso a medida seja aprovada, veículos montados parcialmente no Brasil se enquadrariam como “produção nacional”, que segundo Calvet, geraria um efeito maquilador, com operações de simples montagem sem valor agregado real à cadeia industrial brasileira.
Impactos no setor - Os dados da Anfavea mostram que, só no primeiro semestre de 2025, 228 mil veículos importados foram emplacados no país, que equivale à produção de uma fábrica de médio a grande porte. No mesmo período, a produção nacional caiu 6,5% e as vendas no varejo tiveram um recuo de 10% em relação a 2024. Mais de 600 empregos foram perdidos em junho.
De acordo com Calvet, aprovar o pedido da BYD não possui coerência com a política anunciada pelo próprio governo, que prioriza o fortalecimento da produção nacional, o uso de biocombustíveis e o apoio à indústria de autopeças.
Um dos pontos mais críticos se refere a questão da produção. A redução de tarifas para kits desmontados faz com que o país tenha o risco de registrar como produção local o que na prática é apenas montagem final. Desta forma, poderia trazer um prejuízo à indústria de autopeças, que corresponde aproximadamente a R$ 50 bilhões dos investimentos projetados até 2030.
O presidente também fez uma alerta sobre uma possível pilhagem no mercado nacional. “Pode ter risco de aumentar a importação de kits também. Pode acontecer a pilhagem do mercado brasileiro com fachada de produção nacional. Haverá desequilíbrio concorrencial muito grande”, disse em entrevista ao Estadão.
O pedido da BYD acontece em um momento crítico no cenário do comércio global. Com os EUA prestes a elevar tarifas contra produtos chineses, o Brasil se vê pressionado a adotar uma posição estratégica.
A China cobra 15% sobre as importações de kits desmontados, percentual superior ao que a BYD pede para o Brasil, segundo a Anfavea. Desta forma, a decisão da Camex terá efeitos diretos na competitividade do setor, no emprego industrial e na soberania tecnológica da indústria automotiva brasileira.